O relacionamento humano é uma das coisas mais desafiadoras que existem. Responsável por alguns dos momentos de maior superação da historia da humanidade, tem também seu lado oposto que gera brigas, guerras e muita confusão.
De fato o relacionamento não é o sujeito da argumentação, pois a verdadeira questão é o que o indivíduo faz com seus relacionamentos. Perdoem o trocadilho, porém recentemente ao final de uma palestra, uma pessoa veio me questionar sobre o relacionamento.
Falava dele quase como uma pessoa e, diga-se de passagem, uma pessoa de difícil trato, pois afinal o relacionamento é complicado e muitas vezes ingrato. Por uma brincadeira, perguntei ao meu interlocutor quem era esse tal de “Relacionamento”, pois se ele era assim mesmo eu não queria nem chegar perto. Quase apanhei. Depois do choque da minha afirmação, ele respirou profundamente, me olhou com indignação dizendo que não eu deveria brincar com coisa séria.
Mas se não queria resposta ou atenção, bastava dizer. Desculpei-me e expliquei que necessitava quebrar seu padrão de pensamento, mudar seu foco e, para isso, um comentário como aquele era perfeito. Naquele momento percebi que já tinha sua atenção, de fato eu tinha TODA a sua atenção.
Em primeiro lugar perguntei-lhe porque tratava o relacionamento como algo fora de si, pois ele era o autor e o protagonista desse relacionamento. Ficou surpreso com a minha pergunta e voltou para o discurso da grande dificuldade em lidar com pessoas. Interrompi novamente e perguntei quem especificamente tinha essa dificuldade, então respondeu que ele mesmo, assim como inúmeras outras pessoas.
Chegamos naquele momento ao primeiro ponto importante, ele percebeu que isso era um problema para ele, fazia parte da sua vida e o deixava muito desconfortável.
Para o ser humano assumir suas possíveis limitações é extremamente desgastante. É sempre mais fácil falar que o problema é do amigo, colega, alguém da família e assim por diante. Indaguei com qual freqüência isso acontecia e sua resposta foi “quase sempre”.
Creio que deve ser muito doloroso ter a percepção que na maioria das vezes que decido me relacionar com alguém, tenho dificuldades em chegar aonde desejo e as pessoas não conseguem lidar com a minha “sinceridade”. Algo muito importante surgiu dessa informação. Como assim a sua sinceridade?
-Eu falo o que eu tenho para falar, doa a quem doer. Perguntei de pronto como fazia isso, então me olhou completamente perdido com meu questionamento.
-Eu só digo o que eu penso.
Perfeito, entendi. Mas de que forma você faz isso e com qual intenção?
Utilizo como referência um conceito comportamental muito clássico: Dizer o que se pensa doa a quem doer, não é sinceridade e sim falta de educação.Vivemos em sociedade e dessa forma, entender que os relacionamentos são baseados em respeito é fundamental.
A discordância não gera conflito necessariamente, mas sim o desrespeito ao ponto de vista do outro. Nesse momento você pode estar discordando ou concordando com o que estou escrevendo. O mais importante, porém, é que eu consiga expressar minhas idéias, respeitando a diversidade de opiniões.
O conceito que utilizei acima se baseia em pesquisas de relacionamento, onde se concluiu que: agride mais como se diz do que o que se diz a alguém. Por favor, vamos guardar as devidas proporções! Entramos no campo da assertividade, um desafio maravilhoso ao processo de relacionamento e comunicação humana.
Dizer o que penso, fazendo me entender e respeitando a outra pessoa. Se você gosta de ser respeitado, seja você o primeiro a respeitar, não podemos obrigar as pessoas a fazerem aquilo que queremos, o verdadeiro poder está em controlar a si mesmo. Dessa forma observe a atitude com que você começa o relacionamento, isso implica em perceber principalmente seus pensamentos e emoções, pois eles determinam a forma como você se relaciona com o mundo.
Quando avaliamos uma circunstancia é recomendável que percebamos que uma grande parte cabe a nós e a outra está fora do nosso alcance. Seria bom avaliar se estamos nos colocando na posição de vítima ou de agente ativo; se estamos assumindo ou não a nossa parte da responsabilidade e estabelecendo um processo de melhoria continua na nossa percepção em relação as pessoas e ao mundo.
Epícteto- grande filosofo do inicio do I milênio e mentor do imperador Marcus Aurelius (o imperador filósofo), talvez você se recorde dele como aquele personagem do início do filme Gladiador de Ridley Scott, já nos presenteava com um pensamento poderoso que hoje se tornou uma das bases conceituais da Medicina Comportamental. –“Não são os fatos que nos perturbam, mas sim como percebemos esses fatos.”
Tudo é uma questão de percepção e realidade. Como a realidade é avaliada por meio dos meus sentidos, crenças e valores, o que estou observando é apenas a minha realidade. Sendo assim, existem então muitas realidades, ou melhor, muitas percepções. Concluímos, portanto, que não existe realidade apenas percepção.
Então baseado em que estamos percebendo nossos relacionamentos pessoais e profissionais? Como estamos reagindo a isso?
Você já parou hoje para refletir sobre a sua vida e seus relacionamentos?
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